CLASSIFICADOS DE LUXO

A idade chega e o diálogo sincero entre mãe e filha tarda mas não falha. Não que entre Dora e Carolina a conversa fosse um item irrelevante. Muito pelo contrário, mãe e filha mais pareciam duas irmãs. Não exatamente pela aparência, mas pela capacidade de conversarem por mais de sete horas ininterruptas, sem direito a intervalos comerciais e nem mesmo escapadinhas estratégicas ao banheiro. Fato por si só merecedor de nota no Guinnes Book.

Após uma rápida passagem por algumas lojas de um movimentadíssimo Shopping Popular (leia-se camelódromo), em plena véspera de Natal, mãe e filha resolvem dar um estratégico Pit Stop numa pequena casa de sucos, onde posicionadas estrategicamente frente a frente em um espaço tão ou mais aconchegante que as minúsculas latinhas das tradicionais Sardinhas Coqueiro, iniciam um interessante e dignificante diálogo familiar.

-Mãe, posso te fazer uma pergunta?
-Claro filha!
-Promete que me responde?
-Lógico, alguma vez deixei de te responder?
-É que essa é diferente!
-Diga lá, o que você quer saber?
-Como foi a primeira vez que você fez sexo?

Dora quase teve um infarto fulminante. Por pouco não engasgou com o canudinho do suco de laranja. Seus olhos arregalaram, aquela pergunta assim como a conta de telefone do mês passado haviam pego-lhe de surpresa. Após o choque inicial, Dora achou melhor não evitar o inevitável. Afinal, a filha estava prestes a completar quinze anos e mais dia menos dia, a vaca haveria de ir pro brejo. Quer dizer, se já não houvesse feito um turismo ecológico por aquelas bandas.

-Bem filha. O sexo pra mim sempre ficou em segundo plano. Eu gostava mesmo era de namorar com seu pai.
-Namora tipo como?
-Tipo segurar na mão, tipo tomar sorvete, tipo beijar, tipo fazer cafuné, até que....
-Até que?
-Depois de quatro ou cinco anos fizemos!
-E como foi?
-Bem..... foi normal!
-Normal como?
-Normal filha. Seu pai ficou por cima de mim, se mexendo e gemendo feito uma dobradiça sem óleo, enquanto eu ficava olhando o teto!
-E qual foi a sensação?
-Nada demais.
-Como assim nada demais?
-Nada demais filha. Quer dizer, foi a mesma sensação que se tem ao ler o caderno de classificados de um jornal! Nada demais.

FERNANDO BORGHI

Enviado por Fernando Borghi

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